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Woody Allen na Roda Gigante


A princípio, pareceu-nos temeroso escrever sobre o filme Roda Gigante (EUA, 2017), de Woody Allen, e o movimento #MeToo no mesmo post. Mas não é possível falar de um sem mencionar o outro. Ficaria muito higienizado, sem o caco intruso necessário para fazermos a pérola. Dispostas a correr riscos nesse mundo de opiniões extremadas, resolvemos manter a pauta. Se vai bombar ou explodir, não sabemos. Esperamos que, pelo menos, garanta poucas e boas (trocas de ideias, é claro).

Woody Allen dispensa apresentações, mas precisamos comentar que, mesmo aos 82 anos, ele ainda escreve e dirige filmes e toca clarinete num bar de Nova Iorque. Por ser controverso tanto no trabalho quanto na vida pessoal, o roteirista que tem mais indicações ao Oscar que qualquer outro, costuma ser alvo da mídia mundial. Recentemente, ele voltou às manchetes de forma requentada em consequência da campanha que a atriz Alyssia Milano iniciou no Twitter convidando mulheres a responderem "me too" ("eu também", em português), caso tivessem sofrido abuso sexual, e dos vestidos negros que marcaram o Globo de Ouro que sucedeu à divulgação de escândalos sexuais na indústria cinematográfica americana, pois Dylan Farrow, sua filha adotiva, destampou a panela que ainda cozinha sua revolta com o pai. Ela o acusa há anos de ter abusado sexualmente dela quando era criança, crime pelo qual o diretor nunca foi condenado.


Diz a mídia que Woody Allen tem se esquivado de dar entrevistas sobre Roda Gigante. Talvez ele aja assim para se manter longe de histórias em torno do não provado delito. Vai que um defunto se levanta? Uma pena, visto que o filme é um dos seus melhores, embora realmente possa provocar perguntas impróprias para o momento, pois traz uma madrasta em pé de guerra com a enteada por causa de um amor em comum. A mãe de Dylan Farrow, Mia Farrow, já fez esse papel na vida real, no início dos anos 1990, quando era casada com Woody Allen. Ao trazer a vida para a arte, o filme se agiganta. Que roteiro!


Numa das falas, acredito que do salva-vidas, a terceira ponta do triângulo amoroso, o personagem questiona se nós somos responsáveis pelas próprias tragédias, e, a partir disso, o filme vai se desenrolando na busca da comprovação dessa tese. O título do filme nos ajuda na resposta, pois quando uma roda gigante começa a girar, seus passageiros acreditam que viverão emoções novas, encantam-se com o (re)início, ficam bem até que sejam cumpridos três quartos do percurso, momento em que começam a se aproximar do fim da rodada e percebem que voltaram para o ponto de partida, para o chão, a realidade. Uma vida em círculos nos faz cair nas mesmas armadilhas, como nos mostram os personagens que moram num parque de diversões na praia de Coney Island, especificamente atrás da roda gigante. O viúvo, traído pela segunda esposa e pela vida pela segunda vez, trabalha no local operando o carrossel, que também gira sem sair do lugar, como a mente do menino incendiário, seu enteado.


O roteiro é tão rico que abre reflexões sobre vários assuntos tocantes à natureza humana,

como o fato de o salva-vidas amar na chuva, quando não está trabalhando, situação para a qual podemos buscar na psicanálise a relação entre sexo e morte; a crise de meia-idade da protagonista; o casamento como tábua de salvação para homens e mulheres; os clichês em torno da vida glamorosa de um escritor, destacando a ideia do salva-vidas quanto à boa imagem causada pelo casamento com uma mulher mais velha, enquanto Woody Allen é casado com uma mulher muito mais nova; as cores quentes da fotografia estival do filme e as do figurino da protagonista, que variam conforme sua emoção nas cenas; o aspecto de todos falarem a verdade, exceto a protagonista, que mente até pra si mesma; os livros que aparecem na história de forma positiva, como presentes de amor; o diálogo entre o salva-vidas e a mocinha a respeito da vida, quando ele diz que ela a viveu enquanto ele apenas a leu. Enfim, a roda é gigante!

Achamos que vale a pena reservar um tempo para assistir ao filme. Lembre-se apenas de que a programação dos cinemas, como a roda e a vida, está em constante transitoriedade. Aproveite o início do giro.


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