"Antes que a tarde amanheça
e a noite vire dia
põe poesia no café
e café na poesia"
Paulo Leminski
O café inspira por nos levar a um estado de espírito propício à criação, além de ser, muitas vezes, servido em ambientes favoráveis à troca de ideias, o que nos estimula também a pensar. Tudo nele vicia, incita: o cheiro, o sabor, a interação com os outros ou até mesmo a possibilidade de um mergulho pessoal numa grande xícara da bebida.
O café nos remete à casa, ao interior, sentimo-nos acolhidos e protegidos no seu calor. Ele também serve de musa para muita gente. É uma espécie de camena líquida.
Alguns artistas e intelectuais incorporam a bebida no dia a dia de alguma forma e, muitas vezes, referem-se a ela em suas obras. Na literatura universal, por exemplo, temos o poeta francês Arthur Rimbaud, que viveu entre 1854 e 1891 e ficou famoso pela grande influência que exerceu na literatura moderna e em movimentos artísticos como o surrealismo. Também conhecido pela vida turbulenta e cheia de aventuras, Rimbaud chegou a trabalhar na Etiópia como mercador de café. O escritor Honoré de Balzac (1799 – 1850), autor do popular A Mulher de Trinta Anos, obra que cunhou o termo “balzaquiana”, também era fã de café. Dizem que ele bebia muitas xícaras por dia. A sua paixão pela bebida o motivou a escrever o ensaio The Pleasures and Pains of Coffee (ou Os Prazeres e as Dores do Café) e inspirou muitas pessoas a abrirem cafeterias com o nome dele.
“Café com pão, café com pão, café com pão”.
Assim começa o poema “Trem de Ferro”, do brasileiro Manuel Bandeira (1886 – 1968), que simula, com palavras, o barulho de um trem sobre os trilhos. O famoso poeta e crítico literário também mencionou a bebida em “Momento num café”, poema em que tratou da morte sendo percebida numa cafeteria onde todos estavam, primordialmente, concentrados na vida. Ainda no Brasil, mas em outras formas de arte, encontramos Cândido Portinari (1903 – 1962), famoso pintor brasileiro de origem rural, nascido na região de café paulista, cuja obra tem a lavoura do café como tema recorrente.
Entre os filósofos, a bebida também é popular, talvez porque suas mentes precisam estar sempre muito acordadas. O francês Voltaire (1694 – 1778), o alemão Immanuel Kant (1724 – 1804) e o dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard (1813 – 1855) estão entre alguns dos que não dispensavam um cafezinho. Caminhando para dias mais atuais e o lado da música e da cultura pop, pegamos a cantora, compositora e escritora Patti Smith (1946) como mais um exemplo de amor pelo café. Além de grande apreciadora da bebida, a artista norte-americana revelou em Linha M (sobre o qual já escrevemos por aqui) ter alimentado o sonho de ser dona de uma cafeteria. Ela também descreveu na obra o café que frequentava enquanto se dedicava ao livro. Smith mencionou, ainda, outros cafés que visitou pelo mundo e a busca por um específico, indicado pelo escritor William Burroughs.
Poderíamos trazer para cá outras referências, inclusive pessoais. Eu, por exemplo, escrevo-lhe tomando um cafezinho. Você, talvez, me leia tomando outro. Enfim, café, letras, arte, conhecimento, criatividade e prazer andam juntos há séculos.
Por Maíra Valério e Olívia de Mello Franco
porque café e leite se completam.
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