Hoje em dia muito se fala em padrão de beleza, maternidade, diferença salarial e outros assuntos que afetam diretamente o cotidiano de diversas mulheres do Brasil e do mundo inteiro. Todos esses temas são muito importantes, claro. No entanto, sentimos falta de abordagens que coloquem no centro da discussão as experiências de mulheres que podem ser classificadas como maduras e acumulam vivências e conhecimentos variados enquanto ainda se mantêm ativas e joviais. A chamada meia-idade traz consigo a possibilidade de ser um período recompensador e repleto de sabedoria. Porém, é também um momento de novidades, positivas ou negativas, que podem chegar com mais suavidade caso sejam discutidas e compartilhadas. Refletir sobre o mundo ao nosso redor e sobre nós mesmas é sempre o melhor caminho para o equilíbrio. É com tudo isso em mente que o Camenas traz as dicas a seguir:
Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade
por Miriam Goldenberg / Editora Record / 2008
A antropóloga e escritora Mirian Goldenberg é um dos grandes nomes do Brasil quando se fala em temas relacionados a mulheres e envelhecimento. Em Coroas, de 2008, textos em diversos formatos discutem os assuntos propostos no título da obra. Tem artigo em tom acadêmico e tem também a reprodução de uma conversa feita por meio de uma informal troca de e-mails. Ou seja, a linguagem, em geral, é leve e variada. Com o objetivo de entender um pouco da realidade atual da mulher brasileira, o livro aborda, por exemplo, a questão da fidelidade no casamento contemporâneo, pensa sobre como será a sexualidade e o corpo humano do futuro, fala sobre paternidade, entre outros diferentes assuntos que, contudo, possuem relação entre si. A autora apresenta, ainda, pesquisas sobre corpo e envelhecimento na cultura brasileira, comparando o marido a um “capital”, e analisa mulheres brasileiras e alemãs — e a relação delas com o próprio corpo. Uma boa dica que Goldenberg dá é que quanto mais a experiência humana for focada em coisas que vão para além da aparência, mais o período de envelhecimento será proveitoso. No entanto, de acordo com os achados da pesquisa dela, as alemãs estão mais bem resolvidas nesta questão do que muitas brasileiras.
O intolerável peso da feiúra: sobre as mulheres e seus corpos
por Joana de Vilhena Novaes / Editora Garamond / 2006
Como explica o professor e pesquisador Ricardo Vieiralves de Castro no prefácio do livro, houve uma mudança no decorrer da história das artes no que diz respeito a um único padrão estético. As novas possibilidades trouxeram também novos entendimentos sobre a forma e ampliaram o que se entende por belo. No entanto, o corpo humano, em especial o feminino, não experimentou muito dessa ruptura. Ainda que imposições sobre a aparência das pessoas não sejam uma novidade, certas pressões parecem mais intensas nos tempos atuais. A partir disso, Joana de Vilhena Novaes, Ph.D. em Psicologia Clínica pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), busca abordar nessa obra, lançada em 2006, a relação das mulheres com o próprio corpo. O intuito é denunciar a crueldade que carregam os estigmas pejorativos que pairam sobre quem não corresponde ao que é considerado parte de um determinado padrão. Mais do que uma tirania estética, existe uma tirania do consumo, que não permite que as mulheres, principalmente, possam envelhecer em paz.
Maturidade e mudança
de Germaine Greer / Editora Augustus / 1994
A escritora e acadêmica australiana Germaine Greer questiona, nesse livro lançado na década de 1990, conceitos criados ao longo da história sobre as consequências físicas e emocionais da menopausa e do envelhecimento feminino. A partir de uma pesquisa que envolveu materiais de diversas áreas, como literatura, medicina, antropologia e outros, Greer aponta mitos sociais que envolvem a mulher mais velha, mas indica também caminhos que podem tornar o processo de envelhecer libertador — uma espécie de “reintegração a si mesma”. O olhar da autora é bastante desconfiado no que diz respeito a indústria farmacêutica, que, segundo ela, impõe também interesses comerciais ao patrocinar estudos científicos e sugerir o uso de certas substâncias que serão consumidas por “bilhões de mulheres” todos os anos. A escritora fala sobre a necessidade de autonomia sobre o próprio corpo para que se possa entender o que é uma menopausa normal e o que não é, propondo um processo de envelhecimento baseado na aceitação das próprias experiências e necessidades.