Francis Bacon foi um artista britânico do século XX movido pelo tema do corpo humano. Por volta dos 50 anos de idade, passou a pintar autorretratos. Mas a razão de trazê-lo para uma conversa sobre cabelos brancos não se deve apenas aos seus quadros com rostos deformados, frutos da liberdade que sentia para pintar o que via, sem se preocupar com a similaridade da fisionomia. Sobre isso, abrimos parênteses para afirmar que ele estava certo, pois, se prestarmos atenção, um rosto é sempre instável, mutante, diferente. Bacon está presente neste post também porque, na década de 1970, chamou a atenção de todos por retocar a raiz de seus cabelos com graxa de sapatos. Talvez sua irreverência no trabalho artístico não tivesse sido suficiente para assumir os cabelos brancos, mesmo a sociedade sendo tolerante com os homens. Ou pintá-los com graxa seria um ato rebelde?
Realmente, a queda de produção de melanina abala a autoimagem de qualquer mortal, principalmente porque a ideia de cabelo grisalho está socialmente ligada ao envelhecimento, o que é um mito. Eu, por exemplo, fiquei grisalha precocemente por questões genéticas e tinjo meus cabelos desde os 26 anos. Um sacrifício! Acabei desenvolvendo alergia à química das tintas e, dependendo da marca, eu sinto o couro cabeludo queimar, e a pele em contato com a tinta fica muito irritada. Já me disseram que é por causa de uma tal PPD, também conhecida como para-fenilenodiamina ou p-fenilenodiamina. Mas a gente pode criar outros significados para a sigla, já que a letra P ajuda (risos). O que me resta é ir atrás dos produtos hipoalergênicos e encarar o retoque das raízes duas vezes por mês para garantir que ninguém me chame de desleixada. Isso mesmo! Infelizmente ainda é esta a fama das mulheres que, sem estilo marcante, deixam os fios brancos crescerem livremente.
Na contramão dessa escravidão e defendendo um estilo de vida autêntico, tem surgido um movimento de mulheres que assumem suas madeixas brancas, provocando uma mudança de atitude diante dos fios despigmentados. Minha cunhada, algumas amigas e atrizes que fazem parte dele são autoconfiantes e charmosas.
Elas podem tudo e eu as reverencio, mas até agora não tenho coragem de participar do grupo. Não consigo ficar tão avant-garde. Ainda estou presa à ideia de parecer jovem, mesmo que com rugas iminentes e gengivas em franco recuo (risos).
Os hormônios caem, mas a esperança para quem quer aparentar juvenilidade aumenta. Muitas mulheres aderem a tratamentos de beleza que dão ao rosto luminosidade, uniformidade, volume e contornos definidos mesmo depois da meia-idade. Também há soluções para pescoços, mãos, seios e tudo mais que esteja saindo do prumo após a virada do Cabo das Tormentas. Hoje podemos atenuar sinais típicos da idade sem entrarmos na faca. Mas, quanto aos cabelos, existe algo mais moderno que a tintura? Felizmente já anunciaram a descoberta do IRF-4, gene que altera a cor do cabelo, isto é, o responsável por fazer o folículo piloso perder a cor. Quem sabe nossas bisnetas terão acesso a medicamentos que evitarão ou retardarão a chegada dos cabelos brancos? Se isso tudo acontecer, elas também poderão se livrar dos aplicativos para retocar os selfies. Dois em um e bem mais prático que graxa de sapatos!
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