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Patti Smith é autenticidade e memória em Linha M

Atualizado: 12 de mai. de 2018

Foto: Patti Smith pelo olhar de Jesse Ditmar

Na década de 1970, Patti Smith lançava o disco Horses, nos Estados Unidos, considerado um precursor do punk e também um marco que até hoje ecoa em diversos ouvidos e corações. No entanto, foi o álbum Easter que a lançou de vez para a fama, com a música Because the night se tornando um dos maiores hits da cantora. Além de cantar, ela também compõe, toca, desenha, fotografa, performa, escreve — e se tornou uma espécie de ícone cultural contemporâneo com sua mescla de visceralidade e poesia.


Esse olhar poético, inclusive, permeia intensamente uma das obras mais recentes lançadas por ela aqui no Brasil: Linha M. O livro é quase um diário que abriga lembranças e projeções futuras em relatos descritivos e insights intelectuais. Com muita personalidade, Patti Smith construiu-se enquanto artista de modo bastante vivo e natural, andando na contramão do que se espera de mulheres famosas: muitos são os registros em que aparece com pelos, sem maquiagem e em posições que exploram mais uma identidade pessoal do que a sensualidade padrão de estrelas do rock ou do pop.

A capa de Horses, por exemplo, fotografada por Robert Mapplethorpe, traz simplesmente uma jovem Patti Smith segurando sua jaqueta favorita. Contudo, um olhar profundo somado a um estilo casual, mas muito próprio, deixaram o retrato na atmosfera ideal para representar o debut da cantora. Aliás, o livro Só Garotos, que ganhou um National Book Awards (um dos maiores prêmios literários dos EUA), é uma autobiografia que tem como pano de fundo a história de amor e amizade da artista com o fotógrafo Robert Mapplethorpe, em um recorte que mostra um pouco da contracultura norte-americana a partir do final da década de 1960. A obra é uma promessa que a autora fez ao amigo: antes que ele morresse, ela contaria a história deles.

A autenticidade de Patti Smith tornou-se também uma icônica capa da revista Rolling Stone, publicada em 1978. Captada pelas lentes de Annie Leibovitz, a artista aparece suada, em frente a uma barreira de fogo, em uma imagem que transmite força e calor. Em 2016, Leibovitz e Smith estiveram juntas em mais um projeto marcante: a fotógrafa realizou uma edição diferente do calendário Pirelli e registrou mulheres conhecidas pelo talento, e não apenas pelos corpos esculturais. Entre nomes como Yoko Ono e Serena Williams, Patti Smith apareceu de modo imponente e com os cabelos brancos.


É com esse espírito de se mostrar como realmente é que Patti Smith conduz Linha M. O livro é um convite à contemplação, uma espécie de freio para o dia a dia e as expectativas de começo, meio e fim. O que importa é a imersão no trajeto e a paisagem no horizonte, não o destino final. Enquanto escritora, ela opta por uma prosa não linear que, possivelmente, é o que melhor representa a percepção de tempo e narrativa que revela possuir.

“Talvez não exista passado nem futuro, somente um perpétuo presente contendo essa trindade da memória”, é o que afirma, entre devaneios, reflexões e referências de leitura que mencionam poetas russos, beatniks e autores do Japão.

Por meio de viagens que revelam diferentes lugares do mundo e momentos diversos do passado, a artista se mostra comum e extraordinária — como pode ser, na intimidade, a maioria das pessoas. Dada uma espiada no universo particular de Patti Smith, a obra traz curiosidades inusitadas, como o fato de ela ser parte de um clube independente de geociência, além de experiências cotidianas que envolvem procrastinar no trabalho e assistir a séries policiais.


Como nas fotos, nas músicas ou nas poesias, ela mostra, em Linha M, que é um ser humano composto por carne, osso e emoções. Nascida em 1946, o livro carrega também a dor agridoce de uma mulher que mistura gratidão pelo tempo vivido com a vontade de que os filhos não cresçam e as coisas não mudem de lugar. O ex-marido está morto, presente apenas nas recordações, a infância é uma lembrança distante, e o sonho de abrir um café nunca se concretizou. Ainda que viva e pulsante, a própria Patti Smith, enquanto ícone, também é memória — e, em uma jornada metalinguística, ela escreve sobre escrever e sobre ser para além do que os outros esperam, em qualquer idade.


Foto: Patti com o fotógrafo Robert Mapplethorpe, um de seus grande romances

Acredito no momento, acredito nesse balão alegre, o mundo. Acredito na meia-noite e na hora do meio-dia. Mas no que mais acredito? Às vezes em tudo. Às vezes em nada. É algo que flutua como a luz refletindo numa lagoa. Acredito na vida que um dia todos vamos perder. Quando somos novos, acreditamos que isso não vai acontecer, que somos diferentes. Quando era criança eu achava que nunca iria crescer, que podia realizar esse desejo com a minha vontade. E depois percebi, bem recentemente, que tinha atravessado alguma divisória, inconscientemente encoberta pela verdade da minha cronologia. Como ficamos tão velhos?, pergunto às minhas articulações, ao meu cabelo cor de ferro. Talvez eu viva tanto que a Biblioteca Pública de Nova York seja obrigada a me ceder a bengala de Virginia Woolf. Eu cuidaria da bengala para ela, das pedras de seu bolso. Mas também seguiria vivendo, recusando entregar minha caneta” (Patti Smith, Linha M).



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