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O sol na cabeça retrata vozes de favelas sem exotização



Geovani Martins faz parte de uma novíssima geração da literatura brasileira que tem colocado holofotes sobre diferentes vozes da sociedade. Tais vozes nem sempre são representadas com a riqueza que merecem, pelo menos no que se sobressai nas prateleiras mais visíveis das livrarias. E esses são justamente os lugares que o jovem autor tem ocupado desde a estreia, muito possivelmente por estar representando uma novidade que faltava — e muita gente no topo da cadeia de canonização de artistas nem percebia que estava faltando.


Nascido em 1991, o autor lançou o primeiro livro neste ano. A publicação, intitulada O sol na cabeça, reúne treze contos que retratam, de modo realista, a infância e a juventude de moradores do Rio de Janeiro. Nas histórias, sobressaem-se peripécias vividas principalmente a partir da perspectiva dos habitantes de favelas. Não há exotização ou criminalização gratuita de quem vem das periferias cariocas, o que faz da publicação quase uma etnografia carioca contemporânea.



Banhos de mar, “rolês” entre amigos, paqueras e a emoção da pichação são situações entrecruzadas pela dureza do cotidiano de quem precisa trabalhar horas a fio em empregos que exploram e pagam pouco — e ainda sofre com o terror da violência que está sempre à espreita. Polícia, tráfico de drogas ou a mera discriminação que parte do cidadão médio de classes mais abastadas são elementos apresentados como constituintes de uma tríade que ameaça a rotina de quem não nasceu nas zonas mais privilegiadas da cidade.


As tensões retratadas abrangem relações entre quem é da favela e quem é do asfalto, quem é branco e quem é negro, quem possui religiões diferentes, ou quem simplesmente está adentrando um novo território — seja por viagem, trajeto obrigatório ou mudança de escola. Mas também há espaço para conversas infantis, descobrimentos adolescentes, sentimentos de amor e outras nuances que complexificam e aprofundam os personagens criados por Martins. A linguagem, que ora investe em um modelo mais tradicional e ora reproduz a oralidade informal da juventude, funciona como mais uma ferramenta que auxilia no processo de imersão de quem está lendo.



Até o momento, os direitos da obra já foram vendidos a nove países. Aqui no Brasil, o escritor tem sido presença constante em debates e entrevistas — além de objeto de muitas análises. Nomes como Chico Buarque, Nelson Motta, Milton Hatoum e Marcelo Rubens Paiva são alguns dos que endossam o autor como uma figura necessária para a inovação e renovação literária atual. Os direitos de adaptação também já foram comprados pelo produtor Rodrigo Teixeira, e o cineasta Karim Aïnouz, que dirigiu filmes como Madame Satã (2002) e Praia do Futuro (2014), é o grande cotado para levar O sol na cabeça para as telonas.


Criado em Bangu, Martins já morou na Rocinha e, nos dias de hoje, reside no Vidigal. Embora os textos do autor sejam todos ficcionais, carregam impressões pessoais e testemunhos reais reinventados. Isso é algo que ele não nega em entrevistas por aí, mas sempre acrescenta que é uma atitude comum em muitos escritores, e não apenas em quem saiu da periferia — explicitando que o ato de criar em cima das experiências vividas não é um recurso menor ou um atalho para o exercício criativo.


E, falando nisso, foi exercitando a criatividade que o jovem talento despontou para a fama. Em 2013 e 2015, participou de oficinas literárias da FLUP (Festa Literária das Periferias), evento que movimenta o Rio de Janeiro por meio da apresentação de talentos de realidades e bagagens diversas. O autor participou também, por duas vezes, da programação paralela da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty). Até se consolidar como escritor, foi “homem-placa”, atendente de lanchonete, garçom e muito mais. Agora, o sol na cabeça deixa de ser um enfrentamento diário e obrigatório para se tornar a metáfora de um brilho intenso e de uma expressão artística que, como a ânsia motivadora de muitos personagens de Geovani, não passou batida pelo mundo.



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