Conheço pessoas de fés variadas e muitas têm em casa uma espécie de altar particular numa mesinha, num cantinho da estante, num oratório antigo que herdou de alguém. Eu tenho um bem eclético, com imagens, porta-incenso, cristais, pratinho pra vela, às vezes flores. Antes da epidemia de dengue, meu altar também tinha um copo d’água. Não importa crença, tamanho, local, objetos dispostos. O que esses altares têm em comum é servirem de entrada para o mundo espiritual daqueles que os mantêm.
O altar é uma passagem, uma porta de vaivém. Por ela também passam quem convidamos a nos visitar, nos proteger, agir sobre nós.
Ao altar não se vai por qualquer motivo. Celebramos alianças com quem levamos ao altar. Nele, reverenciamos algo, nos entregamos e deixamos oferendas, nos buscamos, nos alimentamos. Fazemos isso mentalmente ou nos utilizando de símbolos, como flores, frutos, velas e incensos. Tudo depende da religião, do propósito, do tamanho do buraco que o peito carrega ou do grau de plenitude alcançado. No altar, lançamo-nos aos braços daquele que consideramos ser nosso Deus, deixando-nos levar por experiências com o sagrado.
Também podemos ter altares invisíveis, demarcados pelo pensamento e concretizados em momentos de introspecção e meditação. Nesses altares metafísicos, apresentamos nossos esforços para que o celeste nos felicite com seus dons. Neles, depositamos os frutos de nossas boas ações, as flores de nossas boas palavras, esperando receber em troca tudo multiplicado como no milagre dos pães e peixes. Mas, para que haja a multiplicação, é preciso ter algo para repartir. Então, fica a pergunta:
O que você tem deixado no seu altar para ser multiplicado? Entusiasmo, alegria, sua capacidade de afeto?
Ao darmos o que temos de precioso, isso se multiplica em favor dos outros e, por que não, em nosso favor também. Quando abrimos nosso coração e nos colocamos à disposição para fazer o bem, alcançamos maravilhas. Eu tenho experimentado isso há algum tempo e, aos poucos, minha escrita tem tomado forma e, como reflexo disso, tem aberto passagens, facilitando meu caminho. Espero que todo o bem que tenho recebido possa ser compartilhado com quem me lê.
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