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Marianne Peretti: A Única Mulher da Equipe de Niemeyer



A artista plástica franco-brasileira Marianne Peretti pode não ser o primeiro nome que vem à cabeça quando se fala sobre a paisagem brasiliense que foi moldada por tantas mentes e mãos. Contudo, a pintora, escultora e desenhista está presente em elementos icônicos de Brasília graças aos inúmeros projetos que realizou, tendo sido a única mulher na equipe do arquiteto Oscar Niemeyer durante o período de construção da capital federal. Hoje trazemos um pouco da história dela para mostrar outras facetas de pessoas que contribuíram com a estética particular de Brasília, local que a maior parte de nós, do Camenas, pode chamar de lar.


O harmônico e colorido vitral que encanta quem visita a Catedral de Brasília, por exemplo, faz parte do acervo de grandes obras executadas pela artista. O monumento é um dos mais visitados da cidade e foi o primeiro a ser criado na capital. Projetado por Niemeyer, a Catedral foi inaugurada oficialmente na década de 1970. O vitral de Peretti, no entanto, foi concebido em 1990. Ele é composto por dezesseis peças em fibra de vidro em tons de azul, verde, branco e marrom colocadas entre os pilares de concreto que estruturam o monumento. Cada uma dessas peças está inserida em triângulos com dez metros de base e trinta metros de altura que foram projetados pela artista. E o mais incrível: ela desenhou tudo à mão — e em tamanho real!




Originalmente, os pilares da Catedral exibiam a cor natural do concreto e o vidro era transparente. Com o branco tingindo a estrutura, e a cor brotando do vitral, o monumento passou a incorporar ainda mais vida às visitas do público. O branco, aliás, foi uma exigência da artista para que executasse a criação do painel, e o resultado final deixou Niemeyer bastante satisfeito. O vitral funcionou também como uma solução para a climatização do ambiente, que ficava muito quente por conta do vidro incolor utilizado anteriormente.


Além disso, Peretti possui também obras em outros prédios de Niemeyer. Em Brasília, esculturas, vitrais e painéis de vidro elaborados por ela podem ser vistos em lugares como Câmara dos Deputados, Senado Federal, Palácio do Jaburu, Memorial Juscelino Kubitschek, Teatro Nacional e Superior Tribunal de Justiça. A artista possui ainda trabalhos em prédios no Rio de Janeiro, França, Itália, entre outros lugares, e dedica-se não apenas à criação de obras para edifícios públicos, como também atua em residências particulares.


Salão Nobre do Superior Tribunal de Justiça, com o mural de Vallandro Keating e a fachada de Marianne Peretti.

Um dos vitrais de sua autoria na Câmara dos Deputados em Brasília.

Peretti nasceu em Paris, em 1927, a partir da união entre uma francesa e um brasileiro. O trabalho com ilustrações de livros e revistas começou ainda na França, enquanto concluía os estudou na École des Arts Decoratifs e na Academie de la Grande Chaumière, em Montparnasse. E foi em território francês que a artista realizou sua primeira exposição individual. Ao final da década de 1950, mudou-se para o Brasil e participou de inúmeras bienais e exposições individuais e coletivas. Durante a 5a Bienal de São Paulo, em 1959, Peretti ganhou o prêmio de melhor capa de livro com a ilustração de “As Palavras”, do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre.


Salvador Dalí com Marianne Peretti.


Marianne Peretti em sua atual casa em Pernambuco.

Com o intuito de resgatar a memória da pintora, escultora e desenhista, que atualmente vive em Pernambuco, foi lançada a obra Marianne Peretti – A Ousadia da Invenção em 2015. Idealizado por Tactiana Braga, o livro é uma coedição da B52 Desenvolvimento Cultural com as Edições Sesc São Paulo e traz depoimentos da própria artista, fotos e croquis de suas obras, entre murais, vitrais e esculturas, além de análises de estudiosos e personalidades, assim como cartas e depoimentos inéditos de Niemeyer e do arquiteto e urbanista Lúcio Costa. Essa é a primeira biografia de Peretti, que, com mais de 90 anos de idade e uma importante trajetória, merecia estar na prateleira das livrarias há muito tempo. Ainda falhamos muito em prestigiar, valorizar e divulgar a arte e a memória dos artistas brasileiros, principalmente das mulheres. Vamos mudar isso?



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