top of page
  • Instagram Camenas
  • Facebook Camenas
  • Twitter Camenas
  • Rádio Camenas

Deram asas aos copos



Minha coleção de xícaras de café é pequena, embora exista há tempos, desde quando saí da casa dos meus pais e comecei a fazer meu próprio cafezinho. Uma coisa é tomar café na louça de uso diário, outra é preparar o momento, mesmo que solitário, servindo a bebida numa xícara especial, naquela comprada na feira de San Telmo, em Buenos Aires, ou na praça Benedito Calixto, em São Paulo, por exemplo. O gosto do café fica diferente quando apresentado assim, pois a visão e o tato se unem ao paladar e ao olfato provocando uma experiência sensorial quase completa. Se, ao fundo, estiver tocando um piano, pronto, transbordamos na medida em que a xicrinha se esvazia.



Descendo mais um degrau dessa desconstrução, percebemos toda uma ciência por trás do prazer de beber um cafezinho, e, nisso, os designers mandam bem. O visual da xícara realmente impressiona, mas a espessura da borda onde encostamos os lábios influencia bastante em nossa percepção do café, sem falar no fato de que o diâmetro superior do recipiente deve ser maior do que o inferior para expandir os aromas e fazê-los chegar ao nariz.

Um dia, tomando um café desses, encarei uma de minhas xícaras e pensei: Por que deram asas aos copos? Não às cobras! (risos).

E daí parti para uma pesquisa sobre o utensílio que surgiu há quase 10 mil anos com os chineses e seus chás. Naquela época, os orientais tomavam infusões em vasos, tigelas ou diretamente de bules. As jarras e canecas ocidentais também não eram adequadas ao serviço de chás e cafés porque eram grandes e esfriavam rapidamente as bebidas, que deveriam ser tomadas bem quentes e em pequenas quantidades.



Na necessidade de diminuir o objeto, as primeiras xícaras nasceram sem alça, feitas preferencialmente em prata ou porcelana para atender ao gosto da nobreza europeia e dos abastados que podiam consumir chás, cafés e chocolates quentes. Contudo, somente em 1750 foi possível dar às pessoas o prazer de tomar um cafezinho sem queimar as pontas dos dedos, e o mérito disso foi do ceramista inglês Josiah Wedgwood (foto), por acaso avô materno de Charles Darwin. A criação da xícara tal como a conhecemos hoje foi creditada a Wedgwood, embora estudos indiquem que tanto gregos quanto povos pré-colombianos da América já usavam objetos semelhantes milhares de anos antes da invenção inglesa.



Para desbancar ideias apaixonadas em torno da paternidade desse utensílio, temos de reconhecer sua universalidade e presença ao longo do processo de civilização humana, seja lá em que parte do planeta for. Por mais que se queira ter uma xícara para chamar de minha, as receitas culinárias em geral nos obrigam a ter uma nossa, a famosa “de chá”, que, em média, tem a capacidade de conter 240 ml de leite, 120 g de farinha de trigo ou 200 g de arroz. O cotidiano vai exigindo padrões para que o fluxo da vida se mantenha ativo, já que no interior de qualquer país do mundo, por exemplo, ninguém vai atrás de escala e balança na hora de fazer um bolo. Pega-se uma xícara grande para medir alguns ingredientes.


Por outro lado, a arte rompe com esse fluxo racional e garante ao design um espaço que a mistura com as ciências, garantindo beleza e funcionalidade àquilo que se propõe criar. Disso surgem xícaras de café bem especiais, como a desenvolvida pela empresa italiana Illycaffè (foto), que, diga-se de passagem, falta na minha coleção. Essa xícara, própria para um espresso, tem a asa inconfundível, redonda como uma rosquinha.

Esta série das famosas xícaras Illy nos remetem ao Kintsugi, sobre o qual já escrevemos por aqui (clique para ler).

Outra peça singular é a Apple iCup (foto) desenvolvida pelo designer Tomislav Zvonarić. Essa caneca em forma de maçã mordida mantém a bebida quentinha por meio de uma placa de aquecimento, o pires, conectada ao computador por um cabo USB. Não há nada de especial nela em relação à funcionalidade, mas é um objeto irresistível aos fãs da Apple que também curtem café.


Quem gosta de tomar café acaba se apaixonando pelos utensílios que são ligados a ele. As xícaras (e as colheres) são para mim algo encantador e, por serem colecionáveis, viram febre. Não consigo sair de um antiquário sem comprar uma e acho lindo servir a bebida aos amigos misturando várias numa mesma bandeja, criando o aspecto lúdico de “quem vai pegar qual”. Não há jeito mais charmoso para celebrar o fato de termos formas diferentes de provar do mesmo sonho.




Comments


Saiba mais

Bem-vinda ao Camenas, seu clube de inspirações literárias e reflexões  maturadas na arte e no bom humor

Vem que tem
  • Instagram Camenas
  • Facebook Camenas
  • Twitter Camenas
  • Rádio Camenas
Entre no clima

com trilhas especialmente compiladas para seus encontros com você

Leve um mimo

Leve agora nosso exclusivo Coffee Book de cortesia por sua visita!

bottom of page